sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Gosto

Postado por Isa às 22:36
Os nossos conhecimentos são demasiado limitados e o equilíbrio das qualidades que são necessárias para bem ajuizar das coisas não ultrapassa normalmente o que não nos diz directamente respeito. Quando se trata de nós, o nosso gosto não tem esse equilíbrio tão necessário, porque as nossas preocupações intervêm. Tudo o que nos diz respeito aparece-nos de outra forma. Ninguém é capaz de ver com os mesmos olhos aquilo que o toca e aquilo que não lhe diz respeito. No primeiro caso, o nosso gosto é guiado então pelo peso do amor-próprio e do temperamento, os quais nos fornecem novos pontos de vista e sujeitam-nos a um número quase infinito de mudanças e de incertezas. Então, nesse caso, o nosso gosto já não nos pertence, não temos poder sobre ele, muda sem que queiramos e os mesmos objectos aparecem-nos de tantas formas diferentes que chegamos a desconhecer o que já vimos e o que já sentimos.

La Rochefoucauld, in 'Reflexões'
 

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